quinta-feira, 13 de junho de 2013

Detém o tempo, eu te peço

 Por que não paras relógio? – Ovídio Gomes Ribeiro

Na vida que levava de entrar em todas as livrarias do caminho e nunca sair de mãos vazias, fui levada a conhecer alguns sebos: a maior maravilha dessa vida. Olha um livro aqui, vê outro ali, sempre tem aquele que gruda nos olhos e não deixa ir embora se não o levar junto. E grande parte da alegria disso é passar a conhecer antigos e alternativos livros brasileiros.
Em visita a um novo conhecido, meu olhar passou pelo título “Por que não paras relógio?”: “Em muitos momentos de minha vida, pedi ao relógio que parasse, que me permitisse manter aquela felicidade eternamente. O relógio, indiferente às minhas súplicas, continuou movendo seus ponteiros. Fui feliz! Fui infeliz! Fui...Fui...” era o começo da sinopse, não precisava de mais nada. Com o final: “Da próxima vez que encontrá-los, seus olhos e seu coração os verão bem diferentes...”, passou certa decepção, tantos livros que usam essa frase para atrair leitores e acabam não cumprindo as expectativas. Ainda assim, não resisti sair de lá sem estar com ele em mãos, e que ótima decisão essa foi.
Com apenas 90 páginas e uma fácil compreensão do idioma, a leitura se torna rápida de um modo agradável. Escrita em 1999 por Ovídio Gomes Ribeiro, a obra trata da história de Érico e Terezinha, duas crianças na falta de uma infância.
Até a idade de 9 anos, Érico levava uma vida normal, pai, mãe, casa, comida, escola, mas o que seria do livro se tudo continuasse bom? Após um inteligentemente não especificado acidente com o pai do garoto, este cria uma preocupação e sentimento de amor materno tão forte que acaba largando a escola e indo às ruas de São Paulo para levar dinheiro à mãe, ruas nas quais conhece Terezinha.
Terezinha Araujo, com seus dois irmãos mais velhos, vivia nas ruas desde seus 5 anos. Apesar de nunca ter ido à escola, não lhe eram estranhos os números, fazia contas facilmente. Sua verdadeira felicidade transparece após o encontro com Érico, e esse é mais um da coleção de livros que o leitor sente que os personagens deveriam ficar juntos e realmente torce para que isso aconteça.
Uma realidade é retratada ao mostrar o amadurecimento prematuro das personagens. Sem deixar explícito o sofrimento daqueles que vivem assim, torna-se uma leitura agradável e relaxante ao mesmo tempo em que nos faz refletir o que é a sociedade (ainda) hoje.

A quem possa interessar: Relógio - Adilson Ramos

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sanduíche de decepção




   Seguindo a mesma fórmula, como sempre, Nicholas Sparks dá a impressão de que escreveu a maior parte de O Melhor de Mim apenas para ocupar espaço porque não tinha mais o que escrever. Até ficou nas entrelinhas que ele queria passar uma imagem de romances clássicos, onde vários detalhes são retratados e há bastante comparações  e descrições da natureza. Devo falar diretamente que Nicholas falhou nessa missão e ficou bastante claro ao final da leitura que esse foi um dos piores de seus livros. Concordo que é suspeito uma pessoa cética em relação à romances falar sobre Nicholas Sparks, mas mesmo não sendo fã do gênero, ainda consigo gostar de alguns e esse conseguiu deixar o verdadeiro gosto da decepção.
   Retratando a história de Amanda Collier e Dawson Cole que quando jovens se apaixonaram, mas foram separados pelas famílias, reencontram-se anos depois quando ambos estão na idade de 42 anos, devido a morte de Tuck, o que foi, provando que personagens secundários sabem roubar a cena, o melhor do livro.
   Nascido em uma família nada boa onde pai, irmão, primo, todo mundo, basicamente, faz parte do mundo do crime, Dawson foge de casa e acaba se refugiando na oficina/garagem de Tuck Hostetler. Logo em seguida, conhecendo Amanda e os pais dela terem grande aversão a esse namoro, os dois usam a oficina/garagem de Tuck como refúgio.
   Depois de muita enrolação, descrição de folhas, árvores, e muitos outros, Dawson e Amanda se separam e cada um segue um rumo. Quando estão com 42 anos, voltam à cidade devido à morte de Tuck e acabam se reencontrando por essa causa maravilhosa de personagem. Apesar de o reencontro não ser nem um pouco emocionante, o modo como Tuck fez com que isso acontecesse melhorou tudo e quando as menções a esse personagem acabam, o livro volta à monotonia. Mesmo que parando com as descrições exageradas, continua com uma narrativa, embora simples, muito arrastada.
   Antes de encontrar Dawson novamente, a vida de Amanda já estava um caos, com a perda de uma filha, um marido alcoólatra que piora cada vez mais, três filhos perfeitamente saudáveis e todas as suas metas de vida perdidas para poder cuidar desses filhos, o que, provavelmente foi uma jogada para mostrar que ela ainda não tinha motivos suficientes para se jogar de uma ponte. Após encontrar o primeiro amor, mostra-se cada vez mais confusa com o que fazer e nada parece dar aquela luz milagrosa dizendo "faz isso que vai ser melhor", mas voltando aos três filhos saudáveis, dá para prever facilmente o que acontece.
   Dawson, um homem simples e solitário porque nunca acreditou que iria encontrar um amor para esquecer-se de Amanda. Passando por algumas experiências de quase morte por trabalhar em uma plataforma de petróleo, a mais recente foi um trauma que o fez se sentir estranho e começar a questionar o modo como está vivendo. Infelizmente, o livro mostra a narrativa mais focada em mostrar a vida de Amanda, outra jogada de mestre para mostrar o quão vazia era a vida de Dawson. A única coisa em que foca ligada a ele é o fato de ele ver um tipo de fantasma quando se encontra em problemas, essa parte foi um pouco óbvia de descobrir sendo que o livro repete tantas vezes o porquê disso.
   Um pouco depois da metade do livro até antes dos três ou quatro capítulos finais, o livro até perdeu um pouco aquele gosto de decepção, mas quando parecia que ia ficar bom, Sparks provou que nunca larga sua fórmula. Logo após o filho mais velho de Amanda sofrer um acidente, o autor nos faz sentir como é ser vidente. Desse momento em diante, cada palavra foi totalmente previsível e a decepção voltou com toda a força.
   Ainda que Nicholas não tenha acertado nessa história, mostrou que seu sucesso não foi apenas por elas e sim por seu modo de escrever alterando o uso de palavras, narrativa mais rápida ou mais lenta, entre alguns outros fatores, de acordo com a personagem que está em cena no momento e por esse motivo, mereceu duas estrelas. 


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

De Catherine a Catherine


   Não acredito que sejam spoilers se já está familiarizado com a estória do livro, mas está avisado.



   Único e clássico romance de Emily Brontë, que certas vezes reflete no modo como cresceu.
   Tem quem diga que Heathcliff e Catherine possam ser comparados com Romeu e Julieta, o que faz sentido vendo pelo amor que sentiam um pelo outro, mas o modo como se envolvem e como expressam os sentimentos é completamente diferente. Há aqueles para me chamar de louca, mas considero o amor entre as personagens de Emily muito mais profundo do que entre as de Shakespeare, talvez por não ficar tão explícito e ao mesmo tempo dar a ideia de que pertenciam um ao outro. Não se completavam, eram a mesma pessoa.
    A estória começa com Sr. Lockwood, que buscava exílio ao hospedar-se na Granja, chegando ao Morro e conhecendo Heathcliff, Cathy, Joseph, Hareton e a pessoa mais próxima de indiferença entre todos, Nelly Dean. Quando Lockwood acaba pegando uma gripe e é recomendado que fique de repouso, pede a Nelly que o faça companhia e lhe conte um pouco da história que envolve a frieza que todos carregam consigo e não se preocupam em esconder.
   Nelly narra tudo detalhadamente e, às vezes, mostra seu ponto de vista. Desde o ponto onde Heathcliff foi levado ao Morro por Sr. Earnshaw (ao mesmo tempo em que bem aceito por Catherine, nem um pouco aceito por Hindley, irmão da garota) foi descrito como um cigano de pele escura, possuidor de um olhar sombrio e, na vista de Nelly, um rapaz bonito que não aparenta por não ser bem cuidado. Catherine já se mostra mimada, interesseira e de beleza única.
   Com tantas diferentes personalidades envolvidas e um amor tão mais próximo de ser puro ódio, vários estudiosos - ou mesmo apenas leitores curiosos - tentam revelar o "mistério" por trás da obra. Entre a família Earnshaw, moradores do Morro dos Ventos Uivantes, e a família Linton, moradores da Granja dos Tortos, todos expressam uma quantidade absurda de loucura, ódio e paixão. Ao mesmo tempo em que tudo se encaixa perfeitamente e faz sentido, percebe-se sempre que algo não está certo, pode-se até dizer, que está faltando. Até o último ponto final, essa sensação não passa, e apesar de Heathcliff se destacar um pouco mais entre o meio e o fim do livro, Catherine domina a estória do começo ao fim, consegue interferir em todas as personagens, estando viva mesmo após a morte.
   Outro ponto interessante a se destacar: normalmente, o cenário é descrito de acordo com o que sentimento que está sendo passado, contudo, Emily não segue essa regra. Em momentos, descreve um lindo cenário de primavera, detalhando as flores nascentes e pássaros cantantes, enquanto (mais) uma tragédia ocorre. Talvez por esse fator o livro se torne tão melancólico.
   Considerei a escrita relativamente fácil de compreender para um livro lançado em 1847, mesmo que, certas vezes fique um pouco enrolado, a profundidade emocional alcançada nessa leitura é algo incompreensível. Isso é, para aqueles que gostam de um pouco de tristeza nonsense. Existem várias possibilidades de conclusão e ninguém nunca irá saber o que a autora pretendia passar, mas as discussões acerca se tornam realmente interessantes. Ainda fica o pensamento de que Catherine e Heathcliff não ficam juntos justamente porque são muito parecidos.
   Entre os últimos capítulos encontrei a melhor parte do livro, já com a filha de Catherine (também chamada Catherine, mas sempre referida como Cathy) e sua louca história com Linton/Heathcliff e Hareton. Dá para se dizer que a tristeza se dispersa (mas não se perde) um pouco nesse momento. Algo que merece destaque, é o interessante modo como Heathcliff morre, enlouquecendo assim como Catherine. E como se aprende ao longo do livro, nada que Emily Brontë escreve é por acaso...
   Embora tenha entrado em minha lista de favoritos, não é recomendado para qualquer um. É necessário um alto nível de conhecimento na língua portuguesa, paciência e muita (muita) concentração, quatro estrelinhas no Skoob por isso.


Obs.: Mudando a forma de postagem simplesmente porque mudanças são legais.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Resenha livro

Desventuras em série: Mau começo - Lemony Snicket


   Sinopse: Mau começo é o primeiro volume de uma série em que Lemony Snicket conta as desventuras dos irmãos Baudelaire. Violet, Klaus e Sunny são encantadores e inteligentes, mas ocupam o primeiro lugar na classificação de pessoas mais infelizes do mundo, tanto que Lemony Snicket avisa o leitor: "Não há nada que o impeça de fechar o livro imediatamente e sair para uma outra leitura sobre coisas felizes, se é isso que você prefere". . De fato, a infelicidade segue os seus passos desde a primeira página, quando recebem a trágica notícia do incêndio que matou seus pais e que terão que morar com um parente "próximo" que se descobre ser uma terrível pessoa.

   
   Fiquei com medo de ler a série depois de assistir o filme, mas só comecei e percebi que acabaria ajudando, de certa forma. Mesmo já sabendo o que ia acontecer, conforme fui lendo o filme foi se refazendo na minha cabeça e foi uma experiência estranhamente legal pois o livro (lembre-se que estou falando do primeiro e apenas do primeiro) é quase idêntico ao filme. 
   Achei um ótimo livro e uma leitura extremamente fácil e rápida. Os personagens tem uma personalidade marcante, Violet com sua mania de inventar coisas, Klaus sempre atrás de mais livros e Sunny mordendo tudo que lhe pareça bom para isso. Após a tragédia que os faz ir morar com um parente desconhecido, a infelicidade vira uma amiga próxima para os irmãos Baudelaire. 
   Conde Olaf, o suposto parente é - além da tragédia inicial - o motivo para o infortúnio do trio, sempre deixando trabalhos e mais trabalhos (como, por exemplo, consertar janelas e cortar lenha que não será utilizada), não os alimentando, deixando-os em um quarto com nada além de uma cama e o chão para dormirem e acima de tudo, tentando encontrar um jeito de roubar a fortuna da família que só deveria ser retirada do banco após Violet, filha mais velha, atingir a maioridade. Tanta crueldade que, obviamente, o leitor passa a desprezar Conde Olaf e cada vez mais, ficar com dó dos irmãos. 
   Outra coisa a ser comentada, é o jeito como Lemony narra a história, sempre colocando notas e explicações que às vezes são desnecessárias mas são sempre interessantes. Com nada mais a dizer, simplesmente adorei o filme e ainda mais o livro (lógico).