Na vida que levava de entrar em todas as
livrarias do caminho e nunca sair de mãos vazias, fui levada a conhecer alguns
sebos: a maior maravilha dessa vida. Olha um livro aqui, vê outro ali, sempre
tem aquele que gruda nos olhos e não deixa ir embora se não o levar junto. E
grande parte da alegria disso é passar a conhecer antigos e alternativos livros
brasileiros.
Em visita a um novo
conhecido, meu olhar passou pelo título “Por que não paras relógio?”: “Em muitos momentos de minha vida, pedi ao relógio que
parasse, que me permitisse manter aquela felicidade eternamente. O relógio,
indiferente às minhas súplicas, continuou movendo seus ponteiros. Fui feliz!
Fui infeliz! Fui...Fui...” era o começo da sinopse, não precisava de mais nada.
Com o final: “Da próxima vez que encontrá-los, seus olhos e seu coração os
verão bem diferentes...”, passou certa decepção, tantos livros que usam essa
frase para atrair leitores e acabam não cumprindo as expectativas. Ainda assim,
não resisti sair de lá sem estar com ele em mãos, e que ótima decisão essa foi.
Com apenas 90 páginas e uma
fácil compreensão do idioma, a leitura se torna rápida de um modo agradável. Escrita
em 1999 por Ovídio Gomes Ribeiro, a obra trata da história de Érico e
Terezinha, duas crianças na falta de uma infância.
Até a idade de 9 anos, Érico
levava uma vida normal, pai, mãe, casa, comida, escola, mas o que seria do
livro se tudo continuasse bom? Após um inteligentemente não especificado
acidente com o pai do garoto, este cria uma preocupação e sentimento de amor
materno tão forte que acaba largando a escola e indo às ruas de São Paulo para levar
dinheiro à mãe, ruas nas quais conhece Terezinha.
Terezinha Araujo, com seus
dois irmãos mais velhos, vivia nas ruas desde seus 5 anos. Apesar de nunca ter
ido à escola, não lhe eram estranhos os números, fazia contas facilmente. Sua
verdadeira felicidade transparece após o encontro com Érico, e esse é mais um
da coleção de livros que o leitor sente que os personagens deveriam ficar
juntos e realmente torce para que isso aconteça.
Uma realidade é retratada ao
mostrar o amadurecimento prematuro das personagens. Sem deixar explícito o
sofrimento daqueles que vivem assim, torna-se uma leitura agradável e relaxante
ao mesmo tempo em que nos faz refletir o que é a sociedade (ainda) hoje.
A quem possa interessar: Relógio - Adilson Ramos